HealthPunk Vol 2: Futuros ancestrais: as cantadoras de histórias / Ancestral Futures: The Story Singers

Futuros ancestrais:
as cantadoras de histórias


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Futuros ancestrais: as cantadoras de histórias / Ancestral Futures: The Story Singers

Jocyele Ferreira Marinheiro1
https://orcid.org/0000-0001-5821-160X

Raquel Assunção Oliveira1
https://orcid.org/0000-0001-9876-7151

Ana Gretel Echazú Böschemeier1,2
https://orcid.org/0000-0003-0792-1307

João Diego da Luz Melo3,4
Jaine Oliveira Santos5,6
Nicolas da Silva Nascimento5,7
Maria Arli Correia do Nascimento3,8
Maria Nascimento Oliveira Santos5,9
Tereza Pereira da Silva3,8
Vinicius Claudino Chaves1


1Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
2Projeto “Boas Práticas de Enfrentamento à COVID-19” (CNPq), Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
3Liderança indígena jovem do povo potiguara, Ceará, Brasil
4Escola Povo Caceteiro na aldeia Mundo Novo, Ceará, Brasil
5Liderança indígena jovem do povo tabajara
6Centros Integrados de Educação Pública, Ceará, Brasil
7Recursos Hídricos e Meio Ambiente, Monsenhor,  Tabosa, Ceará, Brasil
8Escola Índigena Povo Caceteiro na aldeia Mundo Novo, Monsenhor Tabosa, Ceará, Brasil
9Município de Quiterianópolis, Ceará, Brasil

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Aupiru | Prelúdio

O crepúsculo precede o ritual em memória dos que se foram sadios. Os medos nos abandonaram e hoje, após um século do último genocidio, dançamos num solo nosso, um mundo novo ancestral, Ywaka pisasú. Escuto ao longe os parentes que nos visitam e me preparo para relembrarmos o ontem e celebrar o agora. A Jandaia canta meu nome:

– Alaya!

Musapiri Sá suiwara 2087 | 3ª colheita de 2087

A Jandaia emite sons de um credo que nunca ouvi. Mas, eles não poderiam ser mais compreensíveis. Entendo com meus ouvidos, mas também com meu ventre, meu sangue e meus dentes.  Meu corpo reverbera.

Creio na lua
Creio nas estrelas
Creio nas nuvens
Creio no sol, no vento, na água e no fogo
Acredito no arco celeste
Adoro as pedras
Amo as matas e os passarinhos
Admiro os bichos, não digo nada com  a chuva que molha nosso feijão
Não tenho medo do trovão porque dá chuva pra gente
Não digo más palavras
quando está chovendo, relampejando e trovejando
Não quero ver o Sete Estrelas no mês de maio, porque não alcanço o outro ano
Respeito o papai e a mamãe quando eles respeitam a gente
Acredito nos mais velhos
Porque eles são as pessoas da ciência
Acredito em tudo que é prático
Somos povo do fogo

Atraídos pelo canto, vêm todas as crianças, plantas, jovens, adultos/as, animais e anciãos/ãs da comunidade. Humanos e não humanos. Todos/as eles pareciam ter entendido o que foi cantado pela Jandaia. Um vento, ao mesmo tempo forte e delicado, nos abraçou. É isso: o futuro é agora. Com os olhos da alma, viajamos ao ontem para honrar os nossos, aqueles/as que resistiram e cujo sangue doado nos permitiu a vida.

Em círculo, nos reunimos. Apesar da polifonia de idiomas, as palavras que saíam de minha boca eram recebidas com clareza no corpo daquele/a que as ouvia, e vice-versa. Era nítido: estávamos em celebração. O agora apresentava-se como uma verdadeira graça. E foi por meio delas que encontramos a linguagem ideal para elaborar o que vivíamos.

Em meio a tantos sons, uma melodia suave engatinha em nosso íntimo, acalanto. O ar torna-se nostálgico. Os pássaros celebram. A brisa é leve, saudosa. O solo é grato. Mirando toda a luta e sangue derramado no passado, nos demos conta: é uma alegria viver em 2087. Iniciamos a história de nossos antepassados. Dos seus sonhos, somos a realidade. Juntos, começamos a presentear uns aos outros com dádivas do presente:

Coli

Nossas terras estão demarcadas, nossos povos têm seus direitos garantidos, com suas áreas preservadas e suas crianças com direito a um ensino de qualidade em escolas abertas, onde se aprendem vários tipos de ciência, da mão de pajés, professoras/es, educadoras/es populares, lideranças, contadoras/es de histórias e rezadeiras que sentam na mesma roda para dialogar. Os troncos velhos já não se encantam mais sem realizar seu sonho de ver suas terras demarcadas. Os sonhos dos nossos troncos velhos se tornaram realidade. Como é bom chegar numa aldeia e ver todos/as os parentes felizes com suas terras demarcadas, com saúde de qualidade, com a possibilidade de aprender a partir da própria língua, com acesso a uma tecnologia social que fortaleça nossa conexão com o mundo, com o fortalecimento de um sistema básico de saúde que compreenda a importância da terra, das plantas e dos ciclos nas nossas vidas, com seu lugar sagrado preservado.

Muitos não conseguiram chegar até aqui pra ver, mas onde eles estiverem, estarão dando forças para nós seguirmos lutando e conquistando os sonhos dos nossos povos. “Terras Demarcadas, vida garantida”: essa frase significa bastante. Nós, indígenas, com nossas terras demarcadas, temos vidas garantidas, tornamos esse futuro em presente.

As árvores ao nosso redor concordam e resgatam de suas raízes lembranças de seus parentes humanos, defendendo o solo sagrado, assim como a reexistência de um ecossistema maltratado.

Barriguda (Ceiba speciosa)

Nas águas que banham a semente,
Mucunã questiona a primavera no sertão
Uma cantadora de histórias,
Despe fios do tempo,
Desvendando tramas de um não agora

Assim desatam memórias,
dores se refazem esperança
um novo amanhã
Se revela hoje

Na adormecida lembrança
A Menina e a cobra – irmãs aliadas –
Unidas num útero fatigado,
Separadas à luz da recente chegada
Tempo, não chore,
pois o amanhã na história é gozo

O pranto se fez canto,
A dor quis ser abrigo
Em uma madrugada insone
A despedida gera vida
Nasce um Novo Mundo,
Parentes, cultivos na perda,
floresceram em força

A terra nos abraça
Um abraço caloroso
Que nos fortalece,
nos alimenta
E dá motivos para agradecer

A água nos mata a sede,
saboreamos nossas conquistas,
Sede que nos dá a vontade de viver
O ar é nossa respiração,
É sopro de Tupã
em nossas vidas
É um redemoinho
nos fez entender os ciclos da vida

Com os elementos nos batizamos:
Com o abraço da mãe terra,
Com o suspiro do vento,
Com o calor do fogo,
E com a frieza da água
Louvamos ao pai Tupã

Na seca ou na abundância
Na presença ou na distância
este solo é nosso,
não mais usurpado,
O território é consagrado

Da luta nunca fugindo
Veio do Jucá nossa defesa
Em nossas mãos resistindo
Rompendo as barreiras
Dos que intentaram pertencer

Mais tramas se avizinharam
Combatemos com novos aliados
Desatamos outros nós
Resguardando nossa mãe
E o bem viver comunitário

Vivemos nas serras,
Vivemos nos morros,
Vivemos até na cidade,
Estamos em todos os lugares,
Lutamos pelo que é nosso

Somos o povo potiguara
Somos o povo tabajara
Somos vários povos
Ecoamos um mesmo desejo

Zabel

Hoje vivemos bem melhor que antes, temos liberdade, e vamos com tranquilidade colher nossos alimentos e medicinas. Nas épocas do Grande Vírus de 2020, 2031 e 2047 os nossos/as ancestrais iam à feira, mas assustados/as. Mas, hoje a feira é o nosso quintal e só plantamos e colhemos o que precisamos. Superadas as crises sanitárias, os povos se reinventaram, libertando-se da exploração das terras, dos animais e dos humanos. Vivemos e nos encantamos de modo sadio.

Neném

Não há mais cadeados, as portas se foram. A medicina tradicional foi acolhida por mais

doutores/as e nos nutrimos com alimentação saudável, sem agrotóxicos (veneno para as plantas na época). A diminuição da poluição radioativa tornou nosso ar mais puro. As febres de agora não queimam como antes. Saúdo a casca de angico [1], o mel de malva, os pés de arruda, bem como as cuidadoras que preservam nossas farmácias vivas.

Oliveira

Hoje, eu estudo na escola indígena e gosto muito. Nossos costumes são ensinados, e a língua foi resgatada após um longo período de apagamento. Na escola aprendemos sobre o/a outro/a, enquanto descobrimos mais sobre nós. Os preconceitos étnico-raciais e de gênero foram mitigados e, com eles, a opressão. Nossa cultura é abraçada, pertencemos a um solo de igualdade.

Jara

Pertencemos a um povo guerreiro que realiza seus sonhos diariamente. Temos força e coragem. Nosso povo, que já sofreu muito anos atrás, hoje há mais facilidades. Na luta pela demarcação, vários/as foram aqueles/as que viajaram à procura de melhorias para a aldeia. Conquistamos a demarcação com nosso suor e garra. E, com a terra, conseguimos uma porção de coisas que sonhávamos no passado. Postos de saúde, escolas, universidades, praças e quadras poliesportivas para a educação, diversão e entretenimento já não são mais um sonho: temos tudo isso à nossa disposição.

Kunhã tãe-buia | Menina-cobra

Os contos de nossas dádivas ecoam além do presente. Nas nascentes dos rios, nas ondas dos mares, nas manhãs de sol e de chuva, no canto dos pássaros e na alma anciã daquela que sempre resistiu: a Mãe Natureza. Olho para as crianças e percebo os passos que se iniciam. Nossa história se fez arte, dança contínua, regida por aqueles/as que amanhã estarão recontando histórias.

Volto os olhos para mim e me dou conta: meu corpo é como um tronco, cheio de seiva, prenhe de vida. Meus braços e mãos são galhos sem fim. Meus olhos são flores, abrindo e fechando a cada amanhecer. Da boca pendem frutos suculentos. Minhas raízes vão ao encontro das raízes das minhas parentas. E o ciclo se refaz. Menina e cobra se reencontram.

1 Árvore sul-americana do gênero Anadenanthera


EPÍLOGO

Esta história foi escrita de coletivamente por pesquisadores/as indígenas tabajaras e potiguaras e por pesquisadoras não indígenas reunidos/as em torno de um grupo de trabalho vinculado ao projeto Boas Práticas de Enfrentamento à COVID-19 (Chamada MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/SCTIE/Decit Nº 07/2020 – Pesquisas para enfrentamento da COVID-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves – Processo 403104/2020-3), localizado em três estados do Nordeste brasileiro: Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.

Os processos de produção do material tiveram lugar sob modalidade online e foram alavancados a partir de discussões locais e instâncias de formação vinculados à saúde coletiva, saúde ambiental, justiça ambiental, interculturalidade e direitos humanos. As lideranças indígenas participantes são das comunidades Serra das Matas e Quiterianópolis, no Ceará.  As pesquisadoras que articularam os processos de coescrita são vinculadas à Universidade Federal de Rio Grande do Norte  – UFRN (Brasil). As narrativas partem do diagnóstico crítico de um presente realizado através de discussões e do mapeamento de espaços relevantes para as comunidades, como escolas e postos de saúde. A partir disso, foram retratados problemas tais como os avanços da mineração de grande escala e a extinção ou diminuição de espécies da biodiversidade local.

No texto, é ressaltada a importância da preservação da água, da demarcação do território, do saber científico desde a perspectiva da ciência cidadã (Corburn, 2005) e do acesso à clínica e psicologia interculturais. Ele configura-se como um ensaio de fabulação especulativa (Haraway, 2016) vinculada à ciência ocidental em diálogo com os saberes das várias ciências que configuram as culturas indígenas ancestrais do Brasil. Faz parte do gênero hopepunk (Rowland, 2017), costurado com a pedagogia de imaginar futuros através do esperançar e inspirado em autores brasileiros como González (1984) e Freire (1996/2004).

Pontuamos que os títulos das seções do artigo estão grafados, além de em português, em nheengatu, conhecido como Língua Geral Amazônica, idioma da família linguística Tupi-guarani pertencente ao tronco linguístico Tupi e falado em regiões do Brasil, Colômbia e Venezuela (Avila, 2021). Conforme o último censo demográfico do país, 76.295 indígenas com 10 anos ou mais de idade falam idiomas do tronco tupi no território brasileiro (IBGE, 2010). Na comunidade Mundo Novo, localizada em Monsenhor Tabosa, sertão do Ceará/Brasil, a retomada do uso do idioma ocorreu a partir de 1997 e, hoje, o nheengatu é língua cooficial do município.


References

Listamos abaixo as referências bibliográficas citadas nesta introdução, aqui propostas para continuar costurando mundos através da construção de futurospossíveis a nível local, regional e global:

Corburn, J. (2019). Street science community knowledge and environmental health justice. MIT Press, Cambridge.

Freire, P. (1996/2004). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

Gonzalez, L. (1984). Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista de Ciências Sociais Hoje: Anpocs.
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3040030&forceview=1 

Fabulla TV. (2016, May 24). Donna Haraway / Speculative fabulation [Video]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=zFGXTQnJETg  

IBGE, Censo Demográfico (2010). https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3483  

Rowland, A. (2018). Hopepunk is the opposite to grimdark. Extravagant & Unlikely. https://ariaste.tumblr.com/post/163500138919/ariaste-the-opposite-of-grimdark-is-hopepunk  

Avila, M. (2021). Proposta de dicionário nnhengatu-português. [Doctoral dissertation, USP]. Digital Library USP.
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-10012022-201925/en.php  


Ancestral Futures:
The Story Singers

Aupiru | Prelude

The twilight precedes the ritual in memory of the healthy ones. The fears left us and after a century since the last genocide, we dance in our own soil, a new ancestral world, Ywaka pisasú. In the distance, I hear relatives visiting us, and I prepare myself to remember the yesterday and celebrate the now. Jandaia sings my name:

– Alaya!

Musapiri Sá suiwara 2087 | 3rd harvest of 2087

Jandaia emits sounds of a creed I’ve never heard. But, they couldn’t be more apprehensible. I understand with my ears, but also with my belly, my blood, and my teeth. My body reverberates.

I believe in the moon
I believe in the stars
I believe in the clouds
I believe in the sun, wind, water, and fire
I believe in the celestial bow
I love the stones
I love the woods and the birds
I admire the animals, I don’t say anything to the rain that moisten our beans
I’m not afraid of thunder because it gives us rain
I don’t say bad words
when it’s raining, lightning, and thundering
I don’t want to see Seven Stars in the month of May because I won’t reach the other year
I respect mom and dad when they respect us
I believe in the elders
Because they’re the science people
I believe in everything concrete
We are fire-people

Attracted by the chant, all the children, plants, young people, adults, animals, and elders of the community come. Humans and non-humans. They all seemed to have understood what was sung by Jandaia. A wind, at the same time strong and delicate, embraced us. That’s it: the future is now. With the eyes of the soul, we travel to yesterday to honor our own, those who resisted and whose donated blood allowed us to live.

In a circle, we gather. Despite the polyphony of languages, the words that came out of my mouth were clearly received in the body of the person who heard them, and vice versa. It was clear: we were in celebration. The now presented itself as true grace. And it was through them that we found the ideal language to elaborate what we experienced.

In the midst of so many sounds, a soft melody flows through us, a lull. The air becomes nostalgic. The birds celebrate. The breeze is light, nostalgic. The soil, grateful.

Looking at all the struggle and bloodshed in the past, we realized: it’s a joy to live in 2087. We started the story of our ancestors. Of your dreams, we are the reality. Together, we began to gift each other with blessings of the present:

Coli

Our lands are demarcated, our peoples have their rights guaranteed, with their areas preserved, and their children are entitled to quality education in open schools, where various types of science are learned, from the hand of shamans, teachers, folk educators, leaders, storytellers, and prayers who sit in the same circle to dialogue. Old trunks are no longer enchanted without fulfilling their dream of seeing their lands demarcated. The dreams of our old tree trunks became true. How good it is to arrive in a village and see all the relatives happy with their demarcated lands, with quality health, with the possibility of learning from their own language, with access to a social technology that strengthens our connection with the world, with the strengthening of a basic health system that understands the importance of earth, plants, and cycles in our lives, with their sacred place preserved.

Many have not managed to get here to see it, but wherever they are, they will be giving us the strength to keep fighting and conquering the dreams of our people. “Demarcated Lands, guaranteed life”: this phrase means a lot. As Indigenous people, with our demarcated lands, we have guaranteed our lives, making this future into the present. The trees around us agree and rescue memories of their human relatives from their roots, defending the sacred ground, as well as the re-existence of a battered ecosystem.

Barriguda (Ceiba speciosa)

In the waters that bathe the seed,
Mucunã questions spring in the desert
A singer of stories,
Strip the threads of time,
Unravelling plots of a not now

So they unleash memories,
pain is remade in hope
a new tomorrow
reveals itself today

in the sleeping memory
The Girl and the snake – allied sisters –
United in a weary womb,
Separated in the light of recent arrival
Time, don’t cry,
because tomorrow in history is joy

The weeping became a song,
The pain wanted to be shelter
In a sleepless morning
The farewell generates life
A new world is born,
Relatives, crops in loss,
bloomed in strength

the earth embraces us
a warm hug
that strengthens us,
feeds us
And gives reasons to be thankful

Water quenches our thirst,
we savor our conquests,
Thirst that gives us the will to live

The air is our breath,
It’s Tupã’s breath
in our lives
it’s a whirlpool
made us understand the cycles of life

With the elements we are baptized:
With the embrace of mother earth,
With the sigh of the wind,
With the heat of the fire,
And with the coldness of the water
We praise Father Tupã

In drought or in abundance
In the presence or in the distance
this soil is ours,
no longer usurped,
The territory is consecrated

From the fight never running away
Our defence came from Jucá
In our resisting hands
breaking the barriers
Of those who tried to belong

More plots are ahead
We fight with new allies
we untie other knots
protecting our mother
And community good living

We live in the mountains,
We live in the hills,
We even live in the city,
We are everywhere,
We fight for what is ours

We are the Potiguara people
We are the Tabajara people
We are several people
We are all echoing the same desire

Zabel

Today we live much better than before, we have freedom, and we go peacefully to collect our food and medicines. In the times of the Great Virus of 2020, 2031, and 2047 our ancestors went to the fair but were scared. Today the fair is our backyard and we only plant and harvest what we need. Overcoming the health crises, people reinvented themselves, freeing themselves from the exploitation of land, animals, and humans. We live and love ourselves in a healthy way.

Neném

No more padlocks, the doors are gone. Traditional medicine was accepted by more doctors and we nourished ourselves with healthy food, without pesticides (which were the poison for plants at the time). Radioactive pollution decrease has made our air cleaner. The fevers of now don’t burn like they used to. I salute the angico [1] bark, the mallow honey, the rue trees, as well as the caregivers who keep our pharmacies alive.

Oliveira

Today, I study at the Indigenous school and I really like it. Our customs are taught, the language has been rescued after a long period of erasure. At school, we learn about each other, while discovering more about ourselves. Ethnic-racial and gender prejudices were mitigated and, with them, oppression is gone. Our culture is embraced, we belong to the soil of equality.

Jara

We belong to warrior people who make their dreams come true on a daily basis. We have strength and courage. Our people, who suffered many years ago, are now more comfortable. In the struggle for demarcation, several were those who travelled in search of improvements for the village. We conquered demarcation with our sweat and determination. And with the land, we get many things that we dreamed of in the past. Health centers, schools, universities, public squares, and sports courts for education, fun, and entertainment are no longer a dream: we have all of it at our disposal.

Kunhã tãe-buia | Snake girl

Tales of our blessings echo beyond the present. In the springs of rivers, the waves of the seas, during sunny and rainy mornings, the singing of birds, and the ancient soul of the one who has always resisted: Mother Nature. I look at the children and notice the steps that begin. Our history became art, continuous dance, governed by those who will be retelling stories tomorrow.

I turn my eyes to myself and realize: my body is like a tree trunk, full of sap, pregnant with life. My arms and hands are endless branches. My eyes are flowers, opening, and closing every dawn. Juicy fruits hang from my mouth. My roots meet the roots of my relatives. And the cycle keeps repeating itself. Girl and snake are reunited.

1 South American tree of the genus Anadenanthera


Epilogue

This story was written collectively by Tabajara and Potiguara Indigenous researchers and by non-Indigenous researchers gathered around a working group linked to the Best Practices Facing COVID-19 project (Call MCTIC/CNPq/FNDCT/MS/ SCTIE/Decit Nº 07/2020 – Process 403104/2020-3), located in three states from Northeastern Brazil: Rio Grande do Norte, Paraíba and Ceará. The production processes of the materials took place online, and were leveraged by local discussions linked to collective health, environmental health, environmental justice, interculturality, and human rights. The participating Indigenous leaders belong to the Serra das Matas and Quiterianópolis communities in Ceará state. The researchers who articulated the co-writing processes are linked to the Federal University from Rio Grande do Norte – UFRN (Brazil). The narratives start with a critical diagnosis of the present carried out through discussions and mapping of relevant spaces for communities, such as schools and health centers. In addition, problems such as the advances of large-scale mining and the extinction or decrease of species of local biodiversity are portrayed.

The text emphasizes the importance of water conservation, territorial demarcation, scientific knowledge from the perspective of citizen science (Corburn, 2005), and access to intercultural psychological/health care. It is configured as an essay along the terms of speculative fabulation (Haraway, 2016) linked to Western science in dialogue with the knowledge of the various sciences from the ancestral Indigenous cultures of Brazil. It is part of the hopepunk genre (Rowland, 2017), stitched together with the pedagogy of imagining futures through hope, inspired by Brazilian authors such as González (1984) and Freire (1996/2004).

The titles of the sections of the article are spelled in Nheengatu, known as Língua Geral Amazônica, a language of the Tupi-Guarani linguistic family belonging to the Tupi language and spoken in regions of Brazil, Colombia, and Venezuela (Avila, 2021). According to the last demographic census of the country, 76,295 Indigenous people aged 10 years or more speak variations of the Tupi language in the Brazilian territory (IBGE, 2010). In the Mundo Novo community, located in the hinterlands of Ceará/Brazil, the resurgence of the use of the language began in 1997, leading Nheengatu to be the co-official language of the municipality nowadays.


References

Below are the quoted bibliographic references, building possible futures at the local, regional, and global levels:

Corburn, J. (2019). Street science community knowledge and environmental health justice. MIT Press, Cambridge.

Freire, P. (1996/2004). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

Gonzalez, L. (1984). Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista de Ciências Sociais Hoje: Anpocs.
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3040030&forceview=1 

Fabulla TV. (2016, May 24). Donna Haraway / Speculative fabulation [Video]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=zFGXTQnJETg  

IBGE, Censo Demográfico (2010). https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3483  

Rowland, A. (2018). Hopepunk is the opposite to grimdark. Extravagant & Unlikely. https://ariaste.tumblr.com/post/163500138919/ariaste-the-opposite-of-grimdark-is-hopepunk  

Avila, M. (2021). Proposta de dicionário nnhengatu-português. [Doctoral dissertation, USP]. Digital Library USP.
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-10012022-201925/en.php  


Suggested Citation:
Ferreira Marinheiro, J., Assunção Oliveira, R., Echazú Böschemeier, A. G., da Luz Melo, J. D., Oliveira Santos, J., da Silva Nascimento, N., Correia do Nascimento, M. A., Nascimento Oliveira Santos, M., Pereira da Silva, T., Chaves, V. C. (2022). Futuros Ancestrais: As Cantadoras de Histórias. Open Physio Journal. http://www.doi.org/10.14426/opj/202212hp0208 

Ferreira Marinheiro, J., Assunção Oliveira, R., Echazú Böschemeier, A. G., da Luz Melo, J. D., Oliveira Santos, J., da Silva Nascimento, N., Correia do Nascimento, M. A., Nascimento Oliveira Santos, M., Pereira da Silva, T., Chaves, V. C. (2022). Ancestral Futures: The Story Singers. Open Physio Journal. http://www.doi.org/10.14426/opj/202212hp0208


The additional illustrations accompanying ‘Ancestral Futures: The Story Singers’ were created in a collaborative way from drawings and photographs taken by indigenous research leaders that have co-authored this Healthpunk story.